domingo, 22 de agosto de 2010

MIREM-SE NO EXEMPLO DAQUELAS MULHERES...DO IRÃ...

Podem matar, apedrejar, ainda assim elas estarão girtando, por todas e todos. Seria bom que aprendêssemos com elas.
Foto de Pietro Masturzo mostra mulher protestando em Teerã: World Press Photo of the year.



Uma boa fotografia não tem de ser entendida à primeira. É, pelo menos, o que prova a foto vencedora do World Press Photo 2009. Uma foto de mulheres no telhado pode ser apenas isso? Podia, mas esta não é. A imagem que mostra mulheres, terraços e telhados de prédios e luzes nas janelas esconde quase tudo. Quem a escolheu diz que o fez exactamente por ter essa força - de desafiar a nossa imaginação a contar o resto. E pelo seu carácter "quase poético". "A fotografia mostra o começo de algo, o começo de uma grande história. Acrescenta perspectivas às notícias. Toca-te visual e emocionalmente", justificou a presidente do júri, Ayperi Karabuda Eser.


Sem se olhar para a legenda é difícil chegar lá. A eleita fotografia do ano não é óbvia, não mostra sangue, nem sobreviventes, nem guerra. Pelo menos de forma transparente. Parece uma foto pacífica, longe de conflitos. E é afinal o primeiro dia do outro lado dos protestos sangrentos em Teerã.

A 24 de Junho, após as eleições presidenciais no Irão, que deram a vitória a Ahmadinejad, os protestos subiram aos telhados. Depois das violentas manifestações de rua, à noite a revolta cantava-se nos terraços e nas janelas. Os gritos daquelas mulheres de Teerã pareciam um eco dos protestos nocturnos ouvidos durante a revolução islâmica de 1979, que conduziu à queda do xá.

O italiano Pietro Masturzo fugiu do centro dos conflitos no Irã e, atraído pelas vozes daquelas mulheres, captou a imagem vencedora a partir do quarto do hotel. Isto depois de ser preso, quando fotografava os protestos e os confrontos com a polícia nas ruas. A World Press Photo do Ano é de Pietro Masturzo, que flagrou o grito de protesto de uma mulher num telhado em Teerã. A imagem faz parte de uma série feita na noite seguinte às conturbadas eleições presidenciais no Irã. A série ganhou o primeiro lugar na categoria Pessoas em Destaque.
Pela primeira vez, o mais prestigiado concurso mundial de fotografia de imprensa ultrapassou a barreira das 100 mil fotografias candidatas. Foram premiados 63 fotógrafos de 23 nacionalidades. E nem todas as fotografias têm a carga dramática dos terraços de Teerã, de um soldado que perdeu 40% do cérebro ou do retrato tristíssimo de um rapaz anoréctico que chegou aos 30 quilos para conquistar a miúda por quem se tinha apaixonado. Há fotos de festas hippies, de piqueniques em Maputo e até uma foto de guerra para a qual se deve olhar bem para descobrir o pormenor que consegue arrancar gargalhadas. O americano David Guttenfelder conseguiu captar o momento em que um soldado saiu do abrigo para ajudar os camaradas, sem ter tempo de vestir nada por cima dos boxers cor-de-rosa a dizer "I Love NY".

Numa entrevista recente ao i, Daphné Anglès, secretária do World Press Photo que foi júri do prémio de fotojornalismo Estação Imagem/Mora, dizia que a melhor fotografia "é aquela que fica na cabeça das pessoas". Experimente ver quantas consegue guardar.

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